“O Egito é uma dádiva do
Nilo”. O que o historiador grego Heródoto quis dizer exatamente com essa frase?
Que o Egito só existia devido a sua proximidade física com o Nilo; que o rio permitia
um grande desenvolvimento agrícola, mesmo em uma região desértica no nordeste
da África. O Antigo Egito realmente foi um produto do Nilo, pois se não fosse o
rio ele não teria existido. As suas cheias enriqueciam o solo de minerais e húmus
fertilizante, permitindo a agricultura e, consequentemente, a permanência de povos
nas suas margens, mesmo sendo uma região caracterizada pela existência de
desertos. Os grupos que lá se estabeleceram cultivavam cereais, como trigo e
cevada, cebola, alho, alface, melancia, pepino, melão, grão-de-bico, lentilha,
maçã, romã e tâmara. Também praticavam a caça e a pesca.
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O Egito é um produto do Nilo, se não existisse o rio não teria existido o Egito. |
A religião foi a principal característica da civilização do Antigo
Egito. Os egípcios eram politeístas,
pois acreditavam na existência de vários deuses. Atualmente acredita-se que o número de deuses
no Egito devia ser superior a três mil. Alguns deuses eram “regionais”,
conhecidos em apenas uma cidade, povoado ou vilarejo; outros eram nacionais.
O sistema religioso
egípcio legitimava o poder dos
governantes, em especial do faraó. Esse,
por sua vez, dependia do conselho de sacerdotes, a alta cúpula dos religiosos, para
lhe dar credibilidade. Em uma eventual briga entre o faraó e o conselho, este
último podia desacreditar o rei, pois – lembre-se – o faraó era faraó por ser
um descendente de um deus, ou seja, na sua origem estava um deus, e o conselho
poderia questionar a sua origem divina, acabando com a sua legitimidade de
governar. Assim, os sacerdotes tinham muito prestígio e poder político.
Os
egípcios acreditavam na vida após a morte; segundo sua doutrina religiosa, a
alma mantinha uma estreita ligação com o corpo físico, vindo visitá-lo após a
morte. Por isso, o corpo precisava ser conservado mediante o processo de
mumificação, para proteger-se da decomposição.
Horús, Rá e Ísis: os egípcios tinham uma mitologia muito rica e variada, onde já foram catalogados mais de 3.500 deuses. Rá, divindade associada ao elemento solar, foi introduzido no panteão religioso do Egito pelo faraó Redjedef, filho de Queóps, que reinou entre 2613-2603 a.C
Alguns deuses egípcios eram associados à imagem de um animal. O touro, por exemplo, representava Rá; o falcão representava Hórus. Adoravam também muitos animais, como o chacal (por sua esperteza noturna), o carneiro (símbolo da reprodução), o jacaré (pela agilidade na água), a serpente (poder de ataque), a águia (capacidade de voar) e o gato, talvez por proteger os estoques de alimentos dos ratos e as pessoas das cobras venenosas, pragas que infestavam a região. Era muito comum as famílias terem gatos de estimação. O mito mais conhecido era o Mito de Osíris, da criação do universo.
Uma estranha fusão de deuses: no período em que Tebas se tornou capital do Egito, o deus protetor da cidade, Amon, adquiriu status de deus nacional ao ser associado ao disco solar e virando Amon-Rá. Segundo o egiptólogo Federico Mella, autor do clássico O Egito dos Faraós, “além de ser politeísta, os egípcios eram também antropozoomórficos, pois os deuses eram representados geralmente pela figura humana e animal. A religião dos antigos egípcios passou por várias etapas: de um simples politeísmo para a mais recuada expressão conhecida de monoteísmo, retornando depois ao politeísmo. Durante o período do Antigo Reino, o culto do sol, corporificado na adoração de Rá foi o sistema dominante de crença. Servia como religião oficial cuja função principal era dar imortalidade ao Estado e ao povo, coletivamente. Para os egípcios, a morte apenas separava o corpo da alma. A vida poderia durar eternamente, desde que a alma encontrasse no túmulo o corpo destinado a servir-lhe de moradia. Era preciso, então, conservar o corpo, e para isso os egípcios se aperfeiçoaram na técnica da mumificação”.
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Os egípcio criaram a noção de que nós não somos apenas um corpo físico, mas possuímos alma. Essa concepção dará origem aos funerais e a própria ideia de religião. |
Períodos históricos do Antigo Egito
A história do Antigo Egito foi
dividida em dois longos períodos, o Período Pré-Dinástico, anterior à
unificação do Alto e do Baixo Egito, e o Período Dinástico, após a formação do
Estado egípcio (3.200 a.C)
até a invasão dos persas (525
a.C).
Período Pré-Dinástic
Em um primeiro momento, o
território que cerca o rio Nilo era ocupado por diversas aldeias chamadas nomos, governadas por chefes locais, ou
seja, pequenas comunidades independentes lideradas por monarcas. Em um segundo
momento histórico, essas comunidades uniram-se e formaram dois reinos
distintos, seguindo a configuração geográfica: o Alto Egito (região do Vale) e o Baixo Egito (região do delta do rio Nilo). Por volta de 3200 a.C., o imperador Menés unificou o Alto e o Baixo Egito,
transformando-se no primeiro faraó do Antigo Egito e finalizando o período
pré-dinastico. Os estudiosos chegaram a essa conclusão graças a uma placa que
registra esse fato: de um lado do objeto aparece o faraó usando a coroa branca,
típica do Alto Egito; do outro, a coroa vermelha do Baixo Egito. Menés também
fundou a cidade de Mênfis para ser a
capital do reino. Assim, nasceu o Estado egípcio unificado.
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Menés: faraó mítico que conseguiu unir o Alto e o Baixo Egito |
O faraó Menés
se fortaleceu com a construção de grandes obras hidráulicas, em atendimento aos
interesses agrícolas da população; ele deu origem ao sistema de dinastias, que
marcaria toda a história egípcia. Ao todo foram 30 dinastias ao longo da
existência do Antigo Egito.
Antigo Império – época da construção das principais pirâmides: Quéops, Quéfren e Miquerinos. A pirâmide de Quéops foi a
construção mais alta do mundo por cerca de 4 mil anos. Nessa época, o Egito se
caracterizava como um Estado pacifista e dedicado à construção de obras de
drenagem e irrigação, que impulsionaram o desenvolvimento da agricultura.
Nesse período, os faraós mantiveram um poder
absoluto por meio de um governo centralizado. A religião desempenhou um papel decisivo,
evidenciado pela riqueza dos sacerdotes e pelo número dos templos construídos.
O governo concretizou o sistema teocrático, no qual o faraó era considerado um deus
na Terra. Ao final do período, o faraó teve seu poder enfraquecido por diversas
revoltas populares internas.
Médio Império – Os faraós reforçaram seu o poder novamente. Nobres do Alto Egito
restauraram a unidade política do Império, fragmentada ao final do Antigo
Império, e estabeleceram em Tebas a nova Capital. Os camponeses, mediante revoltas
sociais, conseguiram o atendimento de algumas reivindicações, como a concessão
de terras, a diminuição dos impostos e o direito de ocupar cargos
administrativos até então reservados às camadas privilegiadas. O período do Médio
Império chegou ao fim com a invasão dos hicsos (palavra que significa rei pastores), um povo de origem
asiática que possuía carros de guerra puxados por cavalos, usavam couraças,
arcos de longo alcance e armas de ferro, artefatos desconhecidos no Egito. Essa
foi a primeira invasão do Egito, e se deu praticamente sem resistência. Os
hicsos dominaram o Egito e instalaram-se no delta do Nilo, permanecendo na
região por aproximadamente dois séculos.
Novo Império –
auge da civilização egípcia, devido a diversas conquistas militares. O período iniciou-se com a vitória sobre os hicsos e a
expulsão deles do Egito. Amósis, o líder militar que venceu os invasores,
inaugurou uma nova dinastia. As principais características desse período foram
o expansionismo e o poderio militar, pois após a luta contra os hictos, os
egípcios desenvolveram um espírito militar de combate, inédito até então no
Egito. O domínio egípcio chegou a se estender até o rio Eufrates, na
Mesopotâmia.
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Amósís I, representado como um grande guerreiro na imagem acima, foi derrotado pelos hicsos. |
Entretanto, esse
expansionismo militar não teve o mesmo efeito para todas as camadas do Egito.
Enquanto o faraó, os chefes militares e os sacerdotes enriqueciam com os saques
e as riquezas dos povos conquistados, a maioria da população tinha que pagar
impostos cada vez mais pesados para manterem os custos das guerras. Além disso,
o estado obrigava muitos camponeses a servirem como soldados, e eles eram
obrigados a abandonar o cultivo da terra. O resultado foi o empobrecimento da
população e o recrudescimento das revoltas sociais no Egito. Essas revoltas
enfraqueceram o poder do faraó.
No século XIV a. C., Amenófis IV, casado com a rainha Nefertiti, empreendeu uma revolução religiosa-política, ao substituir os inúmeros deuses tradicionais por apenas um, Aton. O faraó buscou estabelecer o monoteísmo no Egito. O objetivo era diminuir o poder dos sacerdotes. Os sacerdotes tinham seu poder concentrado na cidade de Tebas; por isso, ele trocou a capital para Aketaton, construída em honra de Aton. Amenófis IV passou a se chamar Aquenaton, que significa supremo sacerdote do deus Aton. Seu sucessor Tutancâmon, restaurou o culto aos deuses tradicionais e pôs fim à revolução monoteísta. Essa disputas internas pelo poder, somadas as invasões estrangeiras, levou à decadencia do Egito, principalmente após ser conquistado pelos persas, em 525 a.C, na batalha de Pelus.
Camponeses – compunham a maior parte da população, viviam submetidos a
violenta repressão por parte do Estado e pagavam altos impostos. Trabalhavam
nas propriedades do faraó e dos sacerdotes e tinham o direito de conservar para
si uma parte da produção. Os camponeses também estavam sujeitos à servidão
coletiva.
Tutancâmon é conhecido hoje, sobretudo, pela
suntuosidade do seu túmulo, encontrado praticamente intacto no vale dos Reis,
em 1922
No século XIV a. C., Amenófis IV, casado com a rainha Nefertiti, empreendeu uma revolução religiosa-política, ao substituir os inúmeros deuses tradicionais por apenas um, Aton. O faraó buscou estabelecer o monoteísmo no Egito. O objetivo era diminuir o poder dos sacerdotes. Os sacerdotes tinham seu poder concentrado na cidade de Tebas; por isso, ele trocou a capital para Aketaton, construída em honra de Aton. Amenófis IV passou a se chamar Aquenaton, que significa supremo sacerdote do deus Aton. Seu sucessor Tutancâmon, restaurou o culto aos deuses tradicionais e pôs fim à revolução monoteísta. Essa disputas internas pelo poder, somadas as invasões estrangeiras, levou à decadencia do Egito, principalmente após ser conquistado pelos persas, em 525 a.C, na batalha de Pelus.
Crise
final do Império
O Antigo Egito, nos últimos anos de sua
existência, alternou períodos de decadência com períodos de
recuperação. Sofreu diversas invasões, até a invasão dos romanos, em 30
a.C., e a sua definitiva incorporação ao Império Romano. A
ocupação do Egito pelas tropas de Alexandre Magno, em 332 a.C., pôs um fim ao
domínio persa. Alexandre designou o general macedônio Ptolomeu, conhecido mais
tarde como Ptolomeu I, para governar o Egito. A maior parte do período que
seguiu à morte de Alexandre, em 323
a.C., foi caracterizada pelos conflitos entre generais,
que tinham se apoderado das distintas partes do império macedônico. Em 305 a.C., Ptolomeu tornou-se
faraó e fundou a dinastia ptolemaica. Cleópatra VII foi a última soberana dessa
Dinastia. Depois da morte de Cleópatra, em 30 a.C., o Egito foi incorporado pelo Império
Romano.
A estrutura
política do Antigo Egito pode ser caracterizada como uma monarquia teocrática, na qual o Faraó
possuía origem divina. O Egito é o modelo clássico do
chamado modo de produção asiático: um
rei divinizado, que representa o estado – e por isso é o dono das terras – e
pode convocar os camponeses para trabalhos obrigatórios. Os camponeses, por sua
vez, cultivavam o solo e pagavam com cereais um imposto coletivo.
A estrutura
social do Antigo Regime era rígida e imóvel; o indivíduo morria pertencendo
à mesma camada social em que nasceu; não havia possibilidade de ascensão social.
Essa sociedade imóvel era mantida pela coersão (força) e pela religião:
Faraó - soberano, considerado um deus vivo, descendente de um deus e
intermediário entre estes e os homens. O faraó era objeto de culto, sua pessoa
era sagrada e tinha autoridade absoluta; por isso, seu governo é chamado de
teocrático. Além de chefe militar, juiz supremo e sumo sacerdote, ele era
considerado, teoricamente, o dono de todas as terras do Egito e ainda podia
requisitar serviços gratuitos dos camponeses e artesãos (servidão coletiva).
Portanto, o faraó era tratado como um Deus; a ele pertenciam todas as terras do
Egito, e era para ele que todos deveriam pagar tributos e prestar serviços,
característica típica do Modo de Produção Asiático. O sistema se configura em
uma monarquia teocrática: um rei de origem divina.
Nobres – descendentes das famílias mais importantes dos antigos nomos,
ou parentes dos faraós. Eram proprietários de grandes domínios, ocupavam também
os principais cargos públicos e postos do exército. Esta camada era formada por
familiares do faraó, altos funcionários do palácio, oficiais superiores do
exército e chefes administrativos das províncias.
Sacerdotes – comandavam as cerimônias religiosas e administravam os templos.
Os sacerdotes enriqueceram com as oferendas e consultas dos fiéis, e eram
isentos do pagamento de impostos. Assim, a função sacerdotal era lucrativa e
hereditária.
Escribas – eram a burocracia (funcionários públicos) do estado egípcio.
Sabiam ler, escrever e contar. Os escribas se encarregavam dos registros de
toda a vida econômica e da cobrança dos impostos, da organização das leis e dos
decretos. A função era hereditária.
Artesãos – trabalhadores urbanos que exerciam diferentes ofícios,
principalmente em grandes obras, muitas vezes em troca apenas de alimento. Os
artesãos exerciam as funções de marceneiros, pedreiros, ferreiros, carpinteiros,
desenhistas, escultores, pintores, tecelões, ourives, barqueiros... Estavam sujeitos
ao sistema de servidão coletiva, ou seja, eram obrigados a atender a uma
convocação do faraó para trabalharem em uma determinada obra.
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Os camponeses estavam sujeitos a servidão coletiva, ou seja, eram obrigados a trabalhar nas obras públicas do Egito quando eram convocados pelo faraó. |
Escravos – estrangeiros derrotados em guerras contra
outros povos ou originários da escravidão por dívidas. Os escravos faziam os
serviços domésticos e trabalhavam nas minas e nas pedreiras.